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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"Guerra dos Mundos"

A poeira seca que enferruja o nariz de quem vive na margem do mundo é a mesma que some na porta dos elevadores e é impedida de entrar porque existem andares demais.
A lama que sufoca até os olhos das pessoas nuas de tudo vai sumindo, sumindo, sumindo e morre quietinha na beira do asfalto.
As filas fedorentas jogadas nos bancos dos hospitais são como pesadelos no sono saudável do homem bem nascido e distante da dor.
“A mortandade que assola ao meio-dia” não existe. É piada diante das mesas vazias de compaixão, de gente que não sabe o que é isso.
Os carrinhos de lata de sardinha com rodinhas de sandália havaiana são uma invenção original demais para entrar no mundo repetido dos brinquedos industriais, que cegam os olhos das crianças de rosto rosado, pra lá e pra cá, nas escadas rolantes dos shoppings centers do mundo.
E falando em mundo, o mundo que vive por baixo do mundo que brilha nas TVs não tem graça nenhuma. Merece o refúgio debaixo de algum tapete persa que sobra nos corredores lustrados d’alguma mansão... Alguma mansão na qual nunca entrarei, a menos que eu ganhe na mega sena da virada.
Mas eu nem jogo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Invisíveis

Atearam fogo num garoto de 14 anos que vivia perambulando pelas ruas da Velha Marabá.
Não é de hoje que mendigos esmolam pelos cantos das construções em busca de comida e crack (não necessariamente nesta mesma ordem). O pior é que entre os “donos de nada” que andam no meio de nós há muitas crianças. Eu me encontro com eles quase todos os dias, deitados debaixo de papelões na sala dos caixas eletrônicos das ricas agências bancárias que sugam nossa cidade.
Ninguém olha para eles, nem prefeitura, nem Poder Judiciário, nem Ministério Público... ninguém.
Os órgãos do Estado não cumprem seu dever, previsto no Artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
Nunca!
Esses meninos e meninas só são lembrados quando roubam, quando matam, quando morrem ou quando são torturados por algum idiota... como agora.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ânimos serenos

Quase uma semana depois do plebiscito, enquanto muitos ânimos estão serenando, refeitos que foram da derrota, ou cansados de comemorar, a divisão do Pará é algo patente nas ruas da capital e do interior.
O Pará, de muitas raças, se divide agora entre paraenses, carajaenses e tapajoaras. O Estado está mais dividido do que nunca.
No geral, o sentimento de exclusão dos interioranos aumentou, enquanto os da capital se acham cada vez mais dono do Estado.
Não deveria ser assim. Não há motivo para festa. O plebiscito deveria deixar uma valiosa lição para todos, a de que precisamos aprender com nossas diferenças.
Se o mapa geográfico foi inalterado, na prática, as pessoas das regiões que sonharam em se emancipar continuam se sentindo pertencentes a outro torrão.
E, ao contrário do que dizem por aí, não há forasteiros aqui. Há gente de todos os lugares, brasileiros e estrangeiros; seres humanos que buscam dias melhores.
Não conheço ninguém, neste Pará imenso (e pobre), que tenha brotado da terra. Nem mesmo nossos primeiros indígenas nasceram aqui.
Não importa donde viemos. Interessa saber para onde vamos. Mas isso ninguém sabe ao certo.
Não, isso ninguém sabe, não. Não e não.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Eis (conforme prometido)

Eu sei que foi o mais nobre dos sentimentos que moveu grande parte das esquecidas regiões do interior do Estado a querer sua emancipação.
Desde meus tempos de menino, vejo o mapa do Carajás em alguns pontos da cidade, principalmente na Casa da Cultura, onde buscava subsídio para meus trabalhos escolares em tempos pré-Internet.
Sei também que, teoricamente, Estados menores são mais fáceis de administrar. Isso sem contar com os recursos que acabam sendo maiores para determinadas regiões desassistidas, como é o caso da nossa.
Mas (e sempre há um “mas”), quem de fato seria beneficiado com essa divisão?
Vi muitos de meus amigos (quase todos) abraçarem a causa, empunharem uma bandeira, que não ajudaram a criar e não sabem nem quem a fez.
Muita gente em Marabá aceitou o Estado de Carajás, como os cristãos aceitam a Bíblia, pela fé, sem pararem ao menos para debater se este era realmente o caminho a seguir neste momento.
E os debates em torno do assunto mostraram que o eleitor e muitos de nossos representantes políticos ainda são rasos.
De repente aconteceu a coisa mais idiota do mundo: a questão virou uma luta da capital contra o interior, de modo que morar aqui e votar no “Não” era sinônimo de traição e vice-versa.
Enquanto isso, outros debates importantes começaram a ser postos de lado. Não se questionou, por exemplo, algo como: Se Estados pequenos fossem sinônimo de desenvolvimento, um dos piores Estados do País não seria o Alagoas.
Ou se a quantidade de representantes políticos em Brasília fosse sinônimo de melhoria de vida, o Nordeste não seria uma região tão miserável.
Em Belém, uns bradavam “Não e Não”, fugindo a qualquer diálogo. Aqui, outros cegaram e viram apenas essa saída.
Mas os daqui esqueceram-se que nosso modelo político corrupto, centralizador e excludente é tão avassalador que, em caso de criação do Estado do Carajás, as boas pessoas que derramaram suor nessa campanha e botaram a cara a tapa, seriam jogadas ao ostracismo em questão de meses, para dar lugar aos velhos coronéis.
A criação de um novo Estado – não se enganem – geraria uma unidade federativa tal qual a de hoje, governada por uma elite pecuarista e minerária, com raras exceções que ficariam amordaçadas no curso da história, na periferia do poder.
Talvez uns poucos se beneficiariam com a criação de novos cargos políticos – necessários, é verdade, para o andamento da máquina administrativa.
Muitos dizem que ter governos mais perto é bom porque nos permite cobrar de nossos representantes. Eu pergunto, então: Por que não cobramos uma postura mais séria de nossos vereadores (que são nossos vizinhos) em relação à administração municipal, que atropela os direitos do povo sem ser incomodada?
Muitos dizem que ter um Poder Judiciário mais próximo também seria bom. Será mesmo? Num país, onde as cadeias estão cheias de negros e pobres, que diferença isso faria? Talvez os pobres seriam enjaulados mais cedo, enquanto os ricos desonestos continuariam pagando cestas básicas e ficando livres.
Muitos dizem que o desmatamento na nossa região é provocado pela ausência do Estado, que está distante. Então por que é que muitos dos grandes desmatadores são favoráveis à criação de Carajás? Para tornarem-se honestos só depois disso?
Se Marabá virasse capital, continuaríamos excluindo nossos irmãos do interior, como somos excluídos pela elite parasita de Belém, que é também excluída pela elite do Sudeste do Brasil e que, da mesma forma, é excluída pelos países desenvolvidos.
Se criássemos o Carajás, teríamos mais hospitais, como o que já existem no Sul Maravilha? Então por que é que nesses grandes centros do Brasil – inclusive em Belém – os pobres continuam morrendo na fila dos hospitais, mesmo tendo mais estrutura?
Parabenizo e respeito a luta de todos que entraram de cabeça nesta causa acreditando num ideal, mas acho que nós (eleitores e políticos) ainda não estamos preparados para isso.
Para a corrupção existente no nosso País não tem tanto de dinheiro que chegue. E o pior é que temos poucos políticos confiáveis. Os bons, na verdade, são exceções que servem apenas para confirmar a regra.
E sabem por que Carajás não daria certo neste momento? Por que este mundo que nós chamamos de normal está de pernas para o ar. Só que ninguém parece ver isso.
Como diria o poeta: “Meus amigos parecem ter medo de quem fala o que sentiu; de quem pensa diferente; nos querem todos iguais. Assim é bem mais fácil nos controlar e mentir, mentir, mentir e matar, matar, matar o que eu tenho de melhor: minha esperança”. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Onde anda o bonzão de votos?

Embora tenha conseguido mais de 30 mil votos na última eleição para deputado estadual, quase todos em Marabá, o ex-prefeito Tião Miranda (PTB) anda longe dos debates em torno da criação do Estado de Carajás.
Não se expôs ao debate. E sabe por quê? Porque teve medo de encarar Simão Jatene e perder os cargos que conseguiu no governo do Estado.
Todos sabem minha opinião sobre o assunto, mas é bom que a população de Marabá (que é 90% a favor do Carajás) lembre disso. Tião mostrou quem ele realmente é... Isso para os que não o conheciam.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dia 12, prometo

Vou falar o que eu penso sobre a reorganização territorial do Pará no dia 12. Fiz um compromisso com um grande amigo que não tocaria neste assunto até passar o plebiscito e vou manter minha palavra.
Por enquanto, quem estiver em dúvida, assistam jornais, leiam livros, escutem o rádio, acessem a Internet, conversem com as pessoas e consultem suas consciências.
Aquele abraço.